terça-feira, 15 de novembro de 2011

LETRAMENTO

Antonia Adriana Mendes da Silva Oliveira

            É na segunda metade dos anos 1980 que a palavra letramento surge no discurso especialistas das Ciências Lingüísticas e da Educação, como uma tradução da palavra da língua inglesa literacy. Sua tradução se faz na busca de ampliar o conceito de alfabetização, chamando a atenção não apenas para o domínio da tecnologia do ler e do escrever (codificar e decodificar), mas também para os usos dessas habilidades em práticas sociais em que escrever e ler são necessários.
           
O que mais propriamente se denomina letramento, de que são muitas as facetas- imersão das crianças na cultura escrita, participação em experiências variadas com a leitura e a escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos de gêneros de material escrito. (SOARES, 2003, p.13)

            Consoante esta colocação, pode-se compreender que, o letramento é uma condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que vive.  Trazer para dentro da escola a diversidade de texto que existe fora dela possibilita a inserção do aluno no mundo letrado.
            Para os Parâmetros Curriculares Nacionais, o Letramento:

É entendido enquanto produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia. São práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas, ainda às vezes não envolvam as atividades específicas de ler ou escrever. Dessa concepção decorre o entendimento de que, nas sociedades urbanas modernas, não existe grau zero de letramento, pois nelas é impossível participar, de alguma forma, de algumas dessas práticas.    (PCN, apud ABREU, 2000, p.8)

            Nesse sentido, compreende-se que, as pessoas que vivem e trabalham nas cidades, mesmo quando são analfabetos, têm sempre algum conhecimento sobre as práticas sociais letradas. Um analfabeto que vive na cidade sabe, que para descobrir para onde vai um ônibus é preciso ler o nome ou número dele, e apesar de não saber ler acaba descobrindo formas de resolver seus problemas de transporte, seja pedindo a alguém que leia, seja memorizando o número, mas para poder participar realmente do mundo letrado, é preciso muito mais que isso. É preciso, por exemplo, poder ler jornais e livros. Tornar-se capaz de aprender coisas através da leitura.
            Costumava-se pensar que bastava ser capaz de decodificar para poder ler qualquer coisa. Hoje há uma nova concepção. Para ler jornais ou outros textos de uso social é preciso conhecer não só as letras, mas também o tipo de linguagem em que são escritos. Para poder compreender o que se está lendo- e não apenas decodificar sinais, é necessário construir uma familiaridade com a linguagem que se usa para escrever cada gênero. É evidente a distância entre a concepção tradicional de estar alfabetizado e a que há atualmente.
            O efetivo exercício da leitura e da escrita pressupõe muito mais que ser capaz de ler e escrever um bilhete simples, critério usado por órgãos oficiais para fazer censos educacionais até os anos 70.
            Sabe-se que hoje, o domínio da escrita alfabética é um conhecimento necessário para que alguém seja um cidadão letrado, mas é claro que aquele conhecimento não dá conta do aprendizado dos diferentes tipos de textos e de suas funções e usos no cotidiano.
            A condição de sujeito letrado se constrói nas experiências culturais com práticas de leitura e escrita que os indivíduos têm oportunidade de viver, mesmo antes de começar sua educação formal. Crianças que vivem em ambientes letrados, não só se motivam precocemente para ler e escrever, mas começam, desde cedo, a poder refletir sobre as características dos diferentes textos que circulam ao seu redor, sobre seus estilos, usos e finalidades. Disto deriva uma implicação pedagógica fundamental: para reduzir as diferenças sócias, a escola precisa assegurar a todos os alunos, desde a educação infantil, a vivência de práticas reais de leitura e produção de textos diversificados.

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